Uma história de vida e de erros. Pai adultera certidão de nascimento para tentar mudar o destino do filho talentoso. Luciano Smaniotto - Florianópolis. O velho sonho de mudar de vida aproveitando um talento, sem medir esforços nem escrúpulos, leva um pai a adulterar a documentação de um filho. A história parece mais comum do que se imagina. E tem suas conseqüências. Antônio Schmoller talvez não as tenha medido, ou mediu e decidiu arcar com os riscos, quando reduziu em três anos a idade do filho, Michel Schmoller. Mudança. Certidão falsa obtida pelo pai reduziu em dois anos a idade do jogador Michel Schmoller, revelação do Figueirense. E agora os dois estão sofrendo com as conseqüências, juntos. Michel não vai mais vestir a camisa do Brasil no Pan-Americano, e ambos devem responder pelo crime de falsidade ideológica. Tudo teria começado em uma peneira escolar, há cinco anos. Michel tinha 15 anos e seu futebol chamou a atenção de um olheiro. Só que, em função da idade, não seria escolhido. Então o pai, Antônio Schmoller, teria ido até a cidade de Sulina, no Paraná (o menino nasceu em 11 de novembro de 1987, em São Jorge do Oeste, também no interior paranaense) e providenciado novo registro. A partir dali, Michel passou a ter como data de nascimento 10 de junho de 1990, e a família toda ganhou uma nova oportunidade na vida, a renda familiar na época era de dois salários mínimos. O garoto talentoso foi morar no Mato Grosso (lugar em que havia mais oportunidades de trabalho para a mãe, que é enfermeira). Quando deixou o estado para fazer um teste no Figueirense, a convite de um primo, não imaginava que chegaria tão longe em tão pouco tempo. Da primeira avaliação no clube, que já foi relâmpago, porque deveria durar uma semana e bastou um dia para o então técnico das categorias de base, Casagrande, reconhecer o potencial do jogador, em 2004, até a primeira convocação para a Seleção, pouco tempo se passou. Aos 15 anos (na verdade 18 anos), Schmoller vestiu pela primeira vez a camisa do Brasil. Disputou o Sul-Americano da categoria e a partir dali, não parou de ser chamado para períodos de treinamento, amistosos e competições. Com o chamado para o Pan, já eram 12 convocações na carreira. Michel começou como meia. Quando chegou na Seleção, era volante. E reserva. Do “padrinho” Branco, ex-coordenador da CBF para as divisões de base, ouviu a pergunta: “Você jogaria como zagueiro?” A resposta foi bem-humorada: “Claro que sim, para estar na Seleção, jogo até de goleiro, se for preciso”. Até de goleiro! E até com certidão de nascimento ilegítima! A adulteração de documento tirou da Seleção o zagueiro titular da equipe Sub-17 e inscreveu mais um nome nas infelizes estatísticas dos escândalos de idades falsas. O que acontecer agora, não faz mais parte do futebol; é uma questão de Justiça. CBF decide afastar o jogador da seleção sub-17. O zagueiro Michel Schmoller, do Figueirense, foi afastado pela CBF da seleção sub-17 depois de o próprio clube ter denunciado que ele adulterou a idade. Michel foi desligado do grupo que disputa um torneio amistoso na Coréia do Sul, e também está fora da disputa dos Jogos Pan-Americanos, embora o torneio seja para jogadores até 20 anos, o Brasil levará a equipe sub-17, que em agosto disputa o Mundial da categoria, também na Coréia do Sul. Segundo o Figueirense, que admitiu o jogador após uma peneira, em 2004, Michel teria apresentado uma certidão de nascimento de 11 de junho de 1990, mas seu pai, Antonio Schmoller, confessou que a data real de nascimento do atleta é 11 de novembro de 1987, ou seja, quase dois anos e meio a mais. “A iniciativa em denunciar seu atleta atende à filosofia do Figueirense, que a partir do ano passado exerce uma forte fiscalização na procedência da documentação de todos os seus jogadores nas categorias de base”, afirmou o clube em nota oficial. No ano passado, o Figueira teve punido como “gato” o volante Carlos Alberto, hoje no Corinthians, que havia reduzido a idade em quase cinco anos. Assim como Michel, Carlos Alberto passou pelas categorias de base da seleção e foi campeão mundial sub-20 em 2003, nos Emirados Árabes. Michel era titular da seleção sub-17 desde a campanha do título sul-americano, conquistado em março, no Equador. A CBF ainda não anunciou nenhuma punição, mas o atleta pode ser suspenso por até um ano, como ocorreu com Carlos Alberto, que só cumpriu seis meses e teve o restante da pena transformada em multa comunitária.